19 de julho de 2013

Sonâmbula e filósofa de Roliúde



Gostaria de ter melhores recordações. Mas, ao contrário do que dizem por aí, querer nem sempre é poder. Falo diretamente do futuro sobre o passado, porque o presente eu nunca ousei viver. Essas lembranças turvas em minha mente me causam arrepios que minha pouca sanidade não conseguem definir se são de tristeza ou de alívio.
Poderia continuar a falar do tempo e de minhas memórias, pois não consigo desviar esses assuntos de minha mente. Só que como bem diz a frase idiota, que muitos definem como clichê, a qual farei referência agora- “Se você não consegue superar o problema, ao menos supere o vício de falar sobre ele”. Por esse motivo barato é que tentarei fazer um esforço.
A dramatização de minhas palavras daria uma bela peça de teatro- e quando falo em drama, digo isso em todos os sentidos, desde a minha expressão neste momento ou aqueles mentirosos que ganham dinheiro nos palcos. É certo que a lida diária com gente de carne e osso é um tanto quanto complicada, por esse motivo, decidi viver num mundo que não é tão real assim, mas que consegue suprir os meus instintos de liberdade mais instantâneos.
Como bem costumo dizer, sou uma atriz do teatro da vida. Não me entenda mal, meus caros, e não achem que estou tentando sobressair minha altivez. Apenas acredito na tese de que quando nos lançamos ao mar, provavelmente, os medrosos voltaram na primeira grande onda. Já os virtuosos, de tanto nadar, nunca desistirão de encontrar o horizonte.
Peço desculpas ao finado (há alguns relevantes séculos) Immanuel Kant, que neste exato momento deve está revirando-se na cova (isto é, se ele teve uma). Entretanto, não quero fugir do foco desta prosa, que veemente não é falar sobre a morte dos filósofos. Apenas queria dizer que discordo dessas teorias formuladas para a felicidade.
acaicompeanutbutter.blogspot.com

Não acredito que com o cumprimento dos seus deveres e ações éticas se consiga alcançar algo tão abstrato e sem definição propriamente dita, assim como também não creio no fato de que a vida seja uma eterna busca pela Dona Felicidade, como disse Aristóteles.
A questão é tão complexa, que eu não acredito nessas teorias, entretanto não consigo formular a minha. Na verdade, eu nem sei o sentido de estar falando sobre isso agora. Talvez seja arte da efemeridade dos meus sentimentos e da minha vida instável.
Dizem que, de vez em quando, eu falo enquanto durmo. Outro dia, meu pai acordou-me com um balde de água fria, e eu mal consegui entender o que havia acontecido. Depois de secar-me e um resfriado se instalar em meu corpo, minha mãe decidiu me explicar toda a situação: eles estavam na melhor parte do sono, quando acordaram com um barulho estranho que vinha do meu quarto. Minha mãe assustada, fez com que meu pai fosse lá conferir.
 -Ele disse que você dormia e gritava feito uma louca pelo nome do... do...
 -É... eu acho que estava gritando pelo nome do DiCaprio.
 - Foiiii, foi isso mesmo! Aí, minha filha, você sabe como é seu pai, não pensou duas vezes quando viu uma você com mais uma dessas crises de sonambulismo, gritando pelo nome deste cabra.
Eu estava anestesiada. Não sabia se continuava ali, parada tentando não sobrepor meus olhos nos de minha mãe e desviando meu olhar para a parede (essa técnica sempre funcionava) ou se soltava o meu riso frouxo e aguentava ser chamada de louca pela segunda vez. A única coisa que me veio a cabeça foi -“De médico e louco, todo mundo tem um pouco” – então decidi olhar para a parede numa tentativa de achar respostas para o acontecido, enquanto minha mãe não conseguia fechar a boca. De nada adiantava, o som das palavras estava cada vez mais distante da minha audição.
Decidi, por um momento, parar de assistir filmes de ficção antes de dormir. Porém, eu não conseguiria, já que esse vício era mais forte do que eu. Desde a minha infância, eu era fascinada pela habilidade das mãos-de-tesoura do Edward, o mundo fantástico que a Alice havia encontrado dentro da toca de um coelho branco que falava e tinha um relógio, e da esquisitice de um velho cientista que conseguiu criar um boneco mais esquisito do que ele, e ainda por cima, deu-lhe o nome de Frankstein.
Algumas vezes, eu até me permitia usar as minhas trelas de criança e ficava espiando da porta da sala os adultos assistindo “Titanic”. BINGO! Tudo veio à tona agora- ontem, antes de dormir, eu tinha assistido “Titanic” e “Diamante de sangue”, ambos os filmes em que Leonardo DiCaprio era o protagonista com personagens e histórias totalmente diferentes.

Acho que eu tenho que fazer uma consulta urgente com meu terapeuta. Meus hormônios devem estar muito afetados.

Júlia Helena

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