29 de julho de 2013

Estranheza ou solidão?

Um dia, você começa a perceber a grande quantidade de oportunidades que se perde ao longo da vida. E compreende também, o quanto é estranhamente curioso se afetar com quaisquer forasteiros. Às vezes, alguns deles parecem fazer um maior sentido em suas vidas do que muitos que você conhece desde a barriga da sua mãe. Outras vezes, você parece os conhecer melhor do que toda essa multidão que te cerca e nada te transmite.

O fato é que nunca se sabe quem realmente se é. Da mesma forma que nunca se sabe quem os outros são. Mas eu te pergunto agora, e o que é a vida? A não ser um sentimento que brota do nada por um acaso que desconhecemos, que não conseguimos explicar, apenas sabemos que sentimos e que somos, e isso é o que importa para que a nossa cegueira esteja efetuada.
O problema é quando a vida se apaixona pela liberdade. Como Auden já dizia, ser livre é ser, frequentemente, só. Essa história de metade da melancia, da laranja, do limão, ou de qualquer outra fruta simétrica, já não faz tanto sentido. Não queremos metade de nada, nós sempre queremos tudo. Porém, nunca sabemos onde encontrar esse tudo, caso soubéssemos, a existência não teria razão por nos fazer eternos nômades do mundo.
A bifurcação de dois rios que desaguam no mar nos mostra que também fazemos parte do infinito. Só que o nosso “infinito particular” só é realmente de nossa propriedade se for estranho, uma vez que não conhecemos o limite. O vasto universo que se encontra dentro de nós é tão desconhecido quanto pensamos. Universo este que nem nós conseguimos desvendar.


Colocamos protetor solar na alma e saímos à luta todos os dias. Desviamos a luz e entramos nos túneis. Nossos corações de plástico ressecado faz com que as redondezas não nos importem. Tão-somente que a qualquer momento, um raio de luz pode quebrar esse plástico. Almejamos um estranho que nos faça feliz. Uma estranheza que, por um sequer segundo, entre dentro de você.

Um estranho, por mais que corrompido. Quero ter a estranheza de sentir-me feliz. Talvez você também a queira. O enfado da tristeza já não tem tanta (des)graça. Pode ser até que o meu nariz me engane. Não quero nem saber, sou intrigante mesmo. E quero estar estranha em conjunto.


Júlia Helena



Agradecimento do material à Thiago Monteiro.

Para os que amam quebrar a casquinha do Cream Brulee com a colher.

Não é preciso gostar muito de cinema para se apaixonar pela francesa Audrey Tautou. Isso fica bem evidente quando se assiste pela primeira vez "O fabuloso destino de Amélie Poulain". A garota de grandes olhos, que logo cedo conquistou os diretores do filme por seu imenso talento de exibir sensações e sentimentos apenas com expressões (arriscaria dizer que são até bem singelas)não deixou vaga para outra possível Amélie. Mesmo não conseguindo pensar em outra pessoa para exercer tal papel, é estranho pensar que Audrey foi levada por acaso para o teste, uma vez que o roteirista Jean-Pierre tinha Emily Watson em mente. Incrivelmente, a atriz tem uma forte ligação com a personagem, o que é bem perceptível em seu teste para o elenco. É por essas e outras que sou simplesmente apaixonada por esse filme, pela atriz e essa sua forma expressionista de atuar. Aqui fica a dica para os que ainda não assistiram, e para os que já expectaram, mais um motivo para amar.

Júlia Helena

21 de julho de 2013

Benjamim



Não sei por que tens esse nome
Não faço ideia porquanto não me consomes
Necessito apenas de uma compra justa
Sem juros,
Cheque sem fundo
Ou falsa conduta

Um dia me dissestes que sim
No outro, já disse que não
Não me importo de ser tão material assim
Só quero ser de uso essencial
Eu sei,
a vida nem sempre é tão espiritual

A alquimia que também vivo a procurar
Infelizmente ainda não achei
Por enquanto apenas tenho que me contentar
Com esse meu arquivo de experiência
É um cheiro com um pouco de alecrim
Que se mistura com meu tom jasmim
Quando juntos, formam o frasco mais precioso
Algo parecido com o cheiro
Daquele dia chuvoso

Mas não era só a chuva que eu queria
Também não era o sol
Eu queria teu nome

Como se fez tal mentira?
A tua existência traíra
É que abriu a porta da minha solidão

Eu dizia: Benjamim!
E você fingia que não ouvia
Eu gritava tanto por ti
E você não tinha olhos pra mim

Um dia teus olhos me olharam
Um dia tua boca encontrou a minha
Porém nesse dia
Tu já não eras mais meu Benjamim
Descobri que sou beija-flor
"O segredo dos teus olhos" -Filme
Então, por favor, não beija-me
Minha amargura acabou
E agora, meu sorriso não pertence [a ti.

Júlia Helena

20 de julho de 2013

Colheita feliz

Faz falta, faz muita falta sim. Mas também faz presença. Faz ausência. Faz perda. Faz ganho. Faz alegria. Faz tristeza. Faz raiva. Faz companhia. A vida é assim, o contentamento de quem tem é recíproco, a tristeza de quem não tem é profunda e a nostalgia de quem pensa, porém está longe, é saudosa.
Posso dizer que tenho sorte. Ou azar. Fica ao seu critério perceber. Só sei que tenho todas essas coisas juntas no primeiro tempo do jogo. Prontamente ganhei muitas vezes, já me ausentei em outras, faço falta para muitos e muitos me fazem falta. Perdi alguns e tenho os melhores. Mas, os mais raros diamantes não se encontram em grande quantidade no mundo. Por isso que digo que sou afortunada, e ter fortuna nem sempre é obra do acaso, afinal de contas, ela só funciona juntamente a empatia que você é capaz de ter com algumas coisas e seres.
É verdade que sou muito racional, isso é simplesmente indiscutível. Contudo, nem todos os que me cercam adoravelmente pensam. Na verdade, tenho um preferido, que não dá uma só palavra até nos ocasiões em que arrebento minha garganta a gritar por ele. Que fica ao meu lado nos momentos em que estou deprimida e ele nem sabe ao menos o que é isso. O fato é que ele não sabe de nada, só tem uma confiança em mim que eu não entendo. Tão-somente a calmaria do vosso não saber afaga o meu ser.
Em suma, o meu afeto é tão grande que já não sei como seria minha vida sem ele. Todavia, a consciência de que num dia ruim vou ter que descobrir como ela será, não consegue ocultar esta minha aflição. Esse martírio também é grande quando penso em perder aqueles que também falam, como o infeliz parecer que tenho dos que já perdi.
Não espero que fiquem lisonjeados. Não espero algum surto de amor. Não espero respostas. Apenas espero que a minha presença, mesmo que ausente, seja tão importante quanto à de vocês em minha história.    


Júlia Helena

FELIZ DIA DO AMIGO PARA TODOS AQUELES QUE SABEM QUE TEM UM LUGAR GUARDADO JUNTO A MIM. 



19 de julho de 2013

Sonâmbula e filósofa de Roliúde



Gostaria de ter melhores recordações. Mas, ao contrário do que dizem por aí, querer nem sempre é poder. Falo diretamente do futuro sobre o passado, porque o presente eu nunca ousei viver. Essas lembranças turvas em minha mente me causam arrepios que minha pouca sanidade não conseguem definir se são de tristeza ou de alívio.
Poderia continuar a falar do tempo e de minhas memórias, pois não consigo desviar esses assuntos de minha mente. Só que como bem diz a frase idiota, que muitos definem como clichê, a qual farei referência agora- “Se você não consegue superar o problema, ao menos supere o vício de falar sobre ele”. Por esse motivo barato é que tentarei fazer um esforço.
A dramatização de minhas palavras daria uma bela peça de teatro- e quando falo em drama, digo isso em todos os sentidos, desde a minha expressão neste momento ou aqueles mentirosos que ganham dinheiro nos palcos. É certo que a lida diária com gente de carne e osso é um tanto quanto complicada, por esse motivo, decidi viver num mundo que não é tão real assim, mas que consegue suprir os meus instintos de liberdade mais instantâneos.
Como bem costumo dizer, sou uma atriz do teatro da vida. Não me entenda mal, meus caros, e não achem que estou tentando sobressair minha altivez. Apenas acredito na tese de que quando nos lançamos ao mar, provavelmente, os medrosos voltaram na primeira grande onda. Já os virtuosos, de tanto nadar, nunca desistirão de encontrar o horizonte.
Peço desculpas ao finado (há alguns relevantes séculos) Immanuel Kant, que neste exato momento deve está revirando-se na cova (isto é, se ele teve uma). Entretanto, não quero fugir do foco desta prosa, que veemente não é falar sobre a morte dos filósofos. Apenas queria dizer que discordo dessas teorias formuladas para a felicidade.
acaicompeanutbutter.blogspot.com

Não acredito que com o cumprimento dos seus deveres e ações éticas se consiga alcançar algo tão abstrato e sem definição propriamente dita, assim como também não creio no fato de que a vida seja uma eterna busca pela Dona Felicidade, como disse Aristóteles.
A questão é tão complexa, que eu não acredito nessas teorias, entretanto não consigo formular a minha. Na verdade, eu nem sei o sentido de estar falando sobre isso agora. Talvez seja arte da efemeridade dos meus sentimentos e da minha vida instável.
Dizem que, de vez em quando, eu falo enquanto durmo. Outro dia, meu pai acordou-me com um balde de água fria, e eu mal consegui entender o que havia acontecido. Depois de secar-me e um resfriado se instalar em meu corpo, minha mãe decidiu me explicar toda a situação: eles estavam na melhor parte do sono, quando acordaram com um barulho estranho que vinha do meu quarto. Minha mãe assustada, fez com que meu pai fosse lá conferir.
 -Ele disse que você dormia e gritava feito uma louca pelo nome do... do...
 -É... eu acho que estava gritando pelo nome do DiCaprio.
 - Foiiii, foi isso mesmo! Aí, minha filha, você sabe como é seu pai, não pensou duas vezes quando viu uma você com mais uma dessas crises de sonambulismo, gritando pelo nome deste cabra.
Eu estava anestesiada. Não sabia se continuava ali, parada tentando não sobrepor meus olhos nos de minha mãe e desviando meu olhar para a parede (essa técnica sempre funcionava) ou se soltava o meu riso frouxo e aguentava ser chamada de louca pela segunda vez. A única coisa que me veio a cabeça foi -“De médico e louco, todo mundo tem um pouco” – então decidi olhar para a parede numa tentativa de achar respostas para o acontecido, enquanto minha mãe não conseguia fechar a boca. De nada adiantava, o som das palavras estava cada vez mais distante da minha audição.
Decidi, por um momento, parar de assistir filmes de ficção antes de dormir. Porém, eu não conseguiria, já que esse vício era mais forte do que eu. Desde a minha infância, eu era fascinada pela habilidade das mãos-de-tesoura do Edward, o mundo fantástico que a Alice havia encontrado dentro da toca de um coelho branco que falava e tinha um relógio, e da esquisitice de um velho cientista que conseguiu criar um boneco mais esquisito do que ele, e ainda por cima, deu-lhe o nome de Frankstein.
Algumas vezes, eu até me permitia usar as minhas trelas de criança e ficava espiando da porta da sala os adultos assistindo “Titanic”. BINGO! Tudo veio à tona agora- ontem, antes de dormir, eu tinha assistido “Titanic” e “Diamante de sangue”, ambos os filmes em que Leonardo DiCaprio era o protagonista com personagens e histórias totalmente diferentes.

Acho que eu tenho que fazer uma consulta urgente com meu terapeuta. Meus hormônios devem estar muito afetados.

Júlia Helena

CRÔNICA: Metabolismo, balança e idade


Aí ele veio com aquela velha história. Eu não queria nem escutar, porque afinal de contas, de velha já basta eu. Quero dizer, velha de alma, de espírito, de comportamento, de princípios... Mas sempre digo que sou velha, e isso não é nenhuma auto teoria. Todos sempre acrescentam três ou quatro anos a minha idade física, cerca de oito a dez anos na minha idade mental e na idade moral, essa aí eu prefiro nem comentar. Se quiser me chamar de careta, o problema vai ser seu. Nem ligo pra isso. Como não ligo mais pra você.
Já passou o tempo que a janelinha do msn (pra vocês verem como eu sou velha) abria no canto da computador e eu sentia um frio na barriga. É, já passou há muito tempo. E não há nada melhor que o tempo para amadurecer uma jaca que já está podre. Qual é o problema? Só porque foi o Fitzgerald que fez essa espécie de analogia com o Benjamin Button que eu não posso fazer também? Aaah, me poupe.
O único erro da minha mãe foi não ter feito-me uns cinco anos antes da minha real data de nascimento. Caso isso estivesse acontecido, eu não precisaria estar aqui hoje falando essas asneiras. Você não se importa? E quem te perguntou se eu me importo que você se importe comigo? Tá vendo, já estou repetindo as palavras. Odeio isso.
Fotografia por Júlia Helena. "cativando-se.blogspot.com"
A verdade é que você já era pra ter ido embora. Sim, os meus filmes e livros do meu quarto são companhia bem melhor. Você não sabe, mas o meu laço de amizade com a Clarice Lispector e Johnny Deep está se estreitando cada vez mais. Passamos horas conversando.

Você? É só mais um que pagou aquele sorvete barato da esquina pra mim, e que segundo minha avó, é um “pão”. Pão engorda muito e eu estou de dieta. Estou altamente light esses dias. Já perdi dois quilos de preocupação. Só que o meu personal trainer avaliou minha meta em dez quilos. 
Isso é bem fácil de perder. Já pode ir embora.

Júlia Helena

18 de julho de 2013

Para a noia

Por Carol Souza.
Cansei
Estou cansada de mim
Estou cansada de ser quem eu sou
Agora

Cansei
Estou cansada do meu fardo
Estou cansada de quem me confessou
De que estava cansado de mim

Respirei
E senti o fundo da minha alma
Bifurcando-se em dois caminhos
Um para o descaminho
E o outro sem fim

Respirei de novo
Chequei que meu pulso ainda pulsava
Meu coração ainda disparava
Eu ainda estava aqui

Parei
Não falei mais sobre o que não me servia
Não amei mais quem nunca me via
Não relutei contra a minha sina

Vivi
Amei mais do que já amava
Sorri mais do que já sorria

Adulterei todas as minhas mágoas.
Júlia Helena

17 de julho de 2013

Achados e perdidos

Por um momento, meu pensamento ficou tão vago quanto folhas de papel em branco. E finalmente eu consegui adormecer. Naquele impasse de utilizar a televisão do meu quarto com o volume baixinho, como se fosse uma espécie de música de fundo, foi que meu sono embalou.
Por um tempo eu pensei que tivesse sequestrado minha própria vida. Porém, já se tornara até um pouco de comédia lembrar-se dos episódios passados desse drama periódico. Parecia que o disco enganchava no meio do caminho e eu não sabia passar o capítulo.
Outro dia, titularam-me como “uma contradição ambulante”. Na hora, não tive muita reação para responder ao chamado. Mas, como é de praxe, aquilo mexeu um pouco comigo. Refleti um pouco, e a primeira coisa que me veio à cabeça foi Raul Seixas e a sua “metamorfose ambulante”. Será que isso sempre foi o que eu queria?
Toquei-me que eu realmente estava num barco que remava contra a maré. De fato, toquei a mim mesmo. As coisas que passavam pela minha cabeça naquela linha tênue entre vida e sobrevida (mais conhecidas por mim como “estar acordada” e “estar dormindo”) eram inefáveis. Hoje só consigo dizer que senti.
Senti por todas aquelas pessoas que se encontravam dentro das suas montanhas de concreto. Na minha janela, ainda havia uma estreita abertura para avistar o mar, mesmo que os homens tentassem arranhar o céu. Um dia, eu sonhava em chegar até o mar. É verdade que por outras pessoas, eu tinha apenas um pouco de compaixão.
As minhas teorias formadas e “frases de efeito” quase nunca fugiam a regra- Toda felicidade é relativa e os verdadeiros amores são recíprocos. A veracidade do caso é que muitas vezes me notava um tanto louca por tentar achar explicação para situações que já estavam tão explícitas.
Essas minhas palavras soltas fazem parte de um aprendizado interno. Prefiro falar ao vento a sucumbir os verbos dentro da minha alma. Esse passado fazia parte do tempo em que meu corpo era quente e minha alma era tão fria, quase ao ponto de congelar. Hoje não escuto tanto os grilos da noite. Prefiro o piar dos passarinhos anunciando mais um dia.

Entretanto, não quero desviar-me do fio do meu novelo. Naquela noite, eu fechei os olhos e consegui enxergar o mundo. Não aquele mundo psicodélico, esse não. Enxerguei o mundo que já era meu e eu ao menos sabia que o tinha.  




Júlia Helena

5 de julho de 2013

Insônia no sonho (pesadelo)

Creio que existam muitos segundos durante uma vida. Aí as pessoas se confiam nos segundos, e esquecem que os anos não são tantos assim. Só que ainda insistem no erro e dizem -“Ah, mais um ano tem muitos dias”- quanto demora o seu ano?
Sem querer ser pessimista, ou qualquer outro adjetivo ruim que você possa estar me xingando acolá, o meu tempo está correndo. Na verdade, eu diria que ele está num voo supersônico. “Você sente que o seu também?”- Ah, desculpa, eu não sabia.
É que eu nunca sei de nada mesmo. Só me dou ao prazer/ desprazer de me tocar. Me toquei naquele dia que disse pra minha mãe que a odiava. Me toquei também naquele dia que a vi cuidando de mim desesperadamente por conta de um simples resfriado. Me toquei que quando eu tinha uns sete anos de idade, gostava das mesmas músicas que a minha irmã mais nova gosta, e achava estranhas as músicas que meu pai escutava. E me toquei que hoje escuto as mesmas músicas do meu pai e critico o gosto “infantil” da minha irmã.
Me toquei que o “Ano novo” daquele dia, parece ser agora tão velho, mesmo parecendo também que tudo aconteceu ontem. Me toquei que parti com muita felicidade e vontade de descobrir o novo. Me toquei também quando senti saudade do velho. Me toquei naquele dia em que escutei “Olhos nos olhos” do Chico Buarque, e fiquei imaginando se alguém um dia poderia se arrepender por uma escolha mal feita. Me toquei naquela vez que fiz uma má escolha, e lembrei da música do Chico.
Me toquei naquele dia que ganhei um celular novo e achei que era feliz. Me toquei naquele dia em que vi um amigo morrer e me senti fútil. Me toquei naquele dia em que pensei que só poderia ser feliz se fosse perfeita. Me toquei também quando descobri que tinha gente que amava os meus defeitos. Eu me tocava o tempo todo. E acredite, continuo me tocando. É que, às vezes, a gente não se cansa de ser errante. Assim como também nunca cansamos de acertar.
Mas, eu descobri também, que me tocava com coisas muito estranhas. Certa vez, fiquei imaginando se as pessoas davam o significado certo para as palavras. Aí pensei, por exemplo, na palavra insônia, que significa em seu sentido original, a falta de sono. Não consegui relacionar, naquele momento, outro sentido para tal palavra tão óbvia.
Outro dia, cheguei à conclusão de que aquele velho ditado “Você só consegue entender realmente o sentido das coisas quando elas estão na sua pele” (na verdade, eu nem sei se isso é um ditado, a culpa é do vício que peguei com a minha avó, que fica formando frases e chamando de ditado) porque eu estava numa noite de insônia. Comecei então a pensar novamente sobre o significado da palavra, e me veio uma coisa à mente: sem sonhos. De fato, se você está acordado, você não pode estar sonhando, é claro, se você não tiver alma de poeta. Porém, o sentido de insônia me trazia algo a mais, um tanto nebuloso, que minha pobre mente não conseguia explicar naquele momento.
Timothy Archibald (Echolilia: Sometimes I Wonder)
E foi aí que veio o susto- eu acordei! Sim, eu me toquei que estava dormindo. Despertei no meio da noite, com um cansaço cruel. Decidi beber um pouco de água. Olhei para uma flecha de luz que passava na porta da cozinha com as luzes apagadas. Perdi o sono.

Não consegui entender como perdemos tanto tempo na vida dormindo. Entretanto, não conseguia achar uma solução “real” para viver sem dormir. Pois é, porque o que seria do embriagado sem a noite e sem a dor?

Júlia Helena

2 de julho de 2013

E o poeta parou

Não é porque a noite bem me calha
Ela é a única que me tem
por inteiro.

O tempo é o cemitério da vida
A vida é a razão do tempo do poeta
Mas o poeta nem vida têm mais
A poesia tornou-se tão... Monótona

Tudo aconteceu bem de repente
Então, o mar
entre as montanhas de concreto.
O amor
esvai-se nos beijos secos e nos corações pálidos.

O que restou mesmo para o poeta
foi a noite,
os seus livros empoeirados na noite
e o cobertor que protege-o da noite.
                                                     
                                                    Júlia Helena