30 de abril de 2013

Geração espontânea


Não consigo compreender a minha própria e velha teoria. O que nos leva a lutar tanto pela vida e seus prazeres? Vejamos como começa:

“Primeiro vem uma sementinha que cresce na barriga da sua mãe e...”, enfim, não vou tentar enganar-te como fizeram quando era criança. Espero também que as crianças (criaturas com inocência e pureza desta fase da vida) não leiam esse texto. Não é meu objetivo arruinar o passado, o presente ou as futuras ilusões de ninguém.
Então, irei ser bem objetiva no que tenho a dizer, mesmo que isso, certas vezes, se contraponha as minhas ações- nascer é uma agressão. Neste momento, você meu caro leitor, deve está achando que minhas humildes palavras tratam-se de um ato de loucura ou simples devaneio de minh’alma.
Sabemos que gerar vida é um processo que naturalmente acontece para a permanência da  espécie, ou pelo menos, para um protelamento de uma raça mais decente que a nossa. Mas este não é o caso. O ato sexual, embora o prazer que o arrodeia, também é uma agressão. Alguém já parou para pensar qual o sentido que rege os seres humanos para sentir sensações tão boas em situações plenamente esquisitas? Sim, porque não sei se a sua memória é falha, mas por volta do sexto ano da sua vida, uma das coisas que você considerava como sendo feio e nojento era um beijo. Imagina-se então, quando primordialmente começa a dificuldade dos pais de falarem sobre sexo com seus filhos.
Você cresce, e começa a descobrir algumas coisas por si só, apenas por extinto, outras pelas bocas das esquinas e informações trazidas por bilhetes de pombos carteiros que chegam a sua janela. Você descobre também que saber de tudo isso, já não te faz mais tão criança assim.
Retornaremos um pouco da história para o nascimento... Depois do ato sexual, infelizmente ou felizmente, pode-se ter a sorte ou o azar de se gerar um embrião. Não me julguem mal, porém, como disse no início, a teoria também está tentado assassinar o seu próprio criador. Falo do azar porque esbanjar amor, paciência e carinho não é tão fácil assim. É simples entender se eu citar-te uma pequena frase que li um dia desses- “ As crianças fazem-se com amor e precisam de amor”.
Entretanto, não se pode deixar de recordar também os casos em quais o ato sexual não foi de livre e espontânea vontade. Nem vou entrar no aspecto financeiro, pois nas atuais condições do capitalismo e no país em que vivemos, isso me faria render algumas páginas a mais.
Pois bem, de uma hora para a outra, começa a surgir um novo ser. Na verdade, não só um, mas vários outros novos seres. A pessoa que carrega a tal “sementinha” em seu ventre também já não é a mesma e nunca conseguirá voltar a ser o que era, sem pelo menos alguma sequela deste acontecimento. Por menor que seja, este pequeno ser irá fazer alguma interferência no mundo, seja para o bem ou para o mal.
Entramos então na parte da segunda agressão, a gravidez. Imagine o que se passa na cabeça de uma mulher quando o seu “trauma” da vaidade é afetado. Não sei exatamente o que acontece ao certo, mas creio que esse aspecto seja bastante afetado. Só o que nos faz compreender internamente e, ao mesmo tempo, desistir de tentar entender a razão para esta tamanha mudança física, é a sabedoria da natureza. Tudo é feito de forma cautelosa e perfeita, na hora certa, de forma impecável e com a quantidade calculada milimetricamente.
Nove meses se passam (às vezes, por ironia do destino até menos) e chegamos na fase da terceira agressão- a expulsão.
Agora, meu caro, você irá deixar de receber a comidinha na boca. Ninguém vai respirar mais por você. Vai ter também que andar com as próprias pernas. No mais, faria uma apresentação mais aconchegante, só que disse que iria ser fatídica. Bem-vindo ao mundo. Aqui é onde você vai completar toda a “roda da vida”, sim, porque tudo aqui é redondo. Os matemáticos diriam que isso não passa de mais uma analogia barata, uma vez que falam por ai que um círculo não tem fim. Pois eu e todo o meu atrevimento, digo que tem. Você realmente quer saber onde fica o derradeiro segundo da sua existência? A resposta é a mais óbvia possível- quando você volta para o início, ou seja, para o nascimento. E o nascimento não passa de mais uma etapa da morte, uma vez que tudo tem início, meio e fim. Você se lembra de quando nasceu? Tecnicamente não, porque sua mente tende a esquecer as agressões. Esquecer muitas vezes quer dizer “não querer lembrar”, pois vale ressaltar mais uma vez que nascer é efetivamente uma agressão. Se somos gerados a partir de uma agressão, nascemos com uma agressão e morremos agressivamente, a solução é fazer valer a pena o resto de tempo que nos sobra. Para provar-te mais uma vez que não sou a única com essas ideias malucas, lembro-te da “Roda viva” de Chico Buarque e da seca de Graciliano Ramos. A agressão está presente no nosso cotidiano, espontaneamente.
O único problema, é a agressão que condensa o cérebro. Estamos acostumados a agredir. Achamos natural sermos agredidos. O amor agora é o estranho. O carinho é feio.
O único  intento que me resta agora, é apetecer a minha alma e encontrar alguma forma hipócrita de amar. Porque amar verdadeiramente já não tem mais sentido.

21 de abril de 2013

Fica a dica!


O último texto postado (Prisão domiciliar) trata-se de um conto baseado em fatos reais. 
Devido alguns comentários, resolvi mostrar para vocês que já existem verdadeiras "ondas de entretenimento"
parecidas com esse tipo de situação, o que leva algumas pessoas a entender melhor o que se passa com sua própria mente, corpo e personalidade em seus dias fagueiros.

Nos EUA, esse novo tipo de "esporte" é chamado de "People watching". O blogueiro Celso Japiassu explica melhor como funciona. 
Neste outro site pode-se entender um pouco como praticar o People Watching. 
Creio que este novo exercício está sendo de grande agrado principalmente aos amantes da fotografia, que intuitivamente já fazem uso dessas técnicas, porém com a consciência de conseguir passar a sua visão para os expectadores e apreciadores da sua arte. Espero que gostem!



20 de abril de 2013

Prisão domiciliar


É verdade que algumas dúvidas nos ocorrem no dia-a-dia. Duvidamos de coisas que, por um sequer momento, imaginaríamos cogitar a sua real essência. A vida sempre está a nos pregar muitas peças. E precisamos aprender a conviver com elas.
Não me leve a mal, porém outro dia me deparei com uma situação que me levou a uma intensa melancolia. Isso me ocorreu pelo simples fato de ter encontrado um pai com sua filha num carrinho de bebê. Eis a situação – Enquanto a mãe estava dentro da loja numa “batalha incansável” a busca de roupas, ao mesmo tempo, o pai fingia que pilotava um carro de corrida e cruzava os cabides, fazendo um intenso barulho com risadas contagiantes, o que me levou a enxergar uma espécie de “País das maravilhas”.
De fato, olhei ao redor e vi muitas caras de desagrado. O que provavelmente conduziu minha atenção para aquele caso foi o entusiasmo com que o pai cumpria sua tarefa ao passo que observava a alegria com que sua pequena filha o contemplava. Alguns me perguntarão pela mãe, porém nesta hora, eu já não estava mais a prestar tanta atenção. Só me detinha a tentar responder as perguntas que por minha mera presença vagavam, como se nada mais tivesse o poder de dilatar tanto minhas pupilas.
Saí dali ainda tentando entender o que se passou comigo, o que não seria compreensível a qualquer um pobre de espírito, pois, situações singelas não aquecem todos os corações. Bom, se você não conseguiu captar minha mensagem, reflita sobre o que vos disseram -“Ainda que eu falasse a língua dos homens, sem amor eu nada seria”- e tente fechar os olhos. Pense em pessoas ou coisas que te levariam a qualquer lugar, independente do esforço que fosse preciso. Pense nas lembranças, nas vitórias, nas derrotas, nas saudades, nas alegrias, nas tristezas, na saúde e na doença. Pense sobre o que você jamais imaginou pensar. Não se preocupe com o tempo, o relógio dos céus não conta os segundos, os minutos, as horas...
Nesse momento, descobri que só me restava um suco de laranjas ácidas. Outorgaram-nos a sermos prisioneiros da nossa própria mente. Não reivindicamos, aceitar é sempre mais fácil. E a verdade é que temos um verdadeiro imã com o que não nos cansa pensar.
Somos frenéticos e calculistas, amamos e odiamos, caímos e levantamos, dormimos e acordamos, não usamos nossa força, embora sonhamos.
Talvez isso seja obra de algum Si-fi que tenha descoberto primeiro a droga do saber. Não há nada mais viciante que ela, embora também não haja nada mais perigoso que a liberdade de usá-la.  
No final, descobri que estou presa em mim mais do que nunca. Será que foi a má sorte do treze? 


Júlia Helena