23 de fevereiro de 2013

É só fascinação




Já é fato consumado. É um medo que me paralisa. Na verdade, uma vontade de entorpecer por alguns instantes. Porque o temor agonia-me. Assusta-me. Envergonha-me. Encanta-me.
Não sei de onde veio essa fascinação. Apenas compreendo que chegou, há algum tempo, e veio pra ficar.
O brilho intenso dos teus olhos transmite-me o que eu jamais poderia explicar em palavras. Os pensamentos conseguem ser muito mais fortes, embora as ações sejam poucas. Olhos para acordar, olhos para dormir, olhos para amar. Mas, os olhares ainda são cegos, não se propagaram pelo ardor que se passa nas veias.
Corações mortos, pálidos e desajustados. É que amar é difícil. Trata-se de uma tarefa autodestrutiva, e às vezes, sufoca e enfarta ambos.
Entretanto, eu aprecio os olhos. São tão mais sensatos que os corações. Conseguimos conhecer um indivíduo inteiro por fisgar de olhares, o que desperta minha timidez. Aposto que isso acontece em qualquer ser capaz de dilatar suas pupilas.    
Contudo, desconheço a minha raça. Trocam as vidas por qualquer pedaço de pedra que brilhe, papel com números ou saquinhos de pó. Trocar olhares é tão mais fácil e prazeroso...
Amar os olhos, talvez seja o sentimento mais sincero. Amar os teus olhos, talvez seja o combustível de minha alma.

21 de fevereiro de 2013

IV. Acidez


É que a menina já não sabe mais amar. O suco que lhe restou foi feito com laranjas ácidas.
A dor que o peito no peito lhe corrompe, é de nunca ter experimentado o doce do amor. Aquele inesperado, empolgante, frenético e reconstrutivo.
Apenas lhe foi outorgada esta lei. Pois foi assim que disseram que ela tinha que ser. E agora confundem a pobre cabeça da ré dizendo que ser assim já não é mais tão bom.
Por Júlia H. Cativando-se. 
Ela fagocita o ar e corrobora mais uma vez dentro de si o que já não é mais novidade.
Valente? Só a carapaça. Não passava de mais uma mera mortal.
O brilho dos olhos e a chegada de sol eram o que lhe transmitia forças para mais uma batalha. Para ela, não havia nada mais belo que a natureza vos pudesse proporcionar. Os desconcertados risos e os abraços inesperados a deixavam tola. Que pena, era apenas Valentina. A simples moça do restaurante da esquina. Tinha o mundo na cabeça e migalhas nas mãos.

20 de fevereiro de 2013

Onde estão as "Águas de março"?


O mês ainda não acabou, mas já temos a certeza de que quando Jobim disse que tinha pau, pedra e que era o fim do caminho, ele foi bem certeiro.
Um mês. Só um. A mesma quantidade de turbilhão que foi gerada no mundo. Porque trinta dias pode até ser pouco tempo. Porém, não para o século XXI.
Até a renomada Igreja Católica está sentindo isso na própria pele.
É que as especulações saem sem querer, mas, nos resta entender. Segundo a Revista Veja: “Renúncia- O sacrifício de Bento XVI para salvar a igreja”. Pois é, agora a igreja está precisando de salvação. Talvez hoje em dia seja a nossa vez de vender as indulgências...
E não para por ai. A Yoni também está dando o que falar. E o Chávez? Será que já está contando suas memórias póstumas ou realmente anda tirando fotos com as filhas e divulgando para a imprensa? Assim como diriam- enquanto o caro presidente venezuelano se quer fazer cada vez mais vivo e presente, o excelentíssimo ex-presidente Lula faz questão de encomendar seu túmulo.
Ah, já ia esquecendo. Os europeus não se contentaram com um boi e resolveram levar um Haras inteiro para suas mesas. Sem falar na “bolinha” que explodiu na cabeça dos russos.
Em meio a tudo isso, os tweets da Daniela Mercury antes de subir no trio elétrico ainda fazem sucesso- “Hoje é dia de sexo, bebês”. Claro, porque as propagandas a favor do uso de preservativos valem bem menos do que a palavra da rainha do axé na festa mais tradicional do Brasil.
E você, também já se perguntou onde estão as  “Águas de março”?

19 de fevereiro de 2013

Transparências



Já não sei mais. Nos pensamentos internos constantes, nos sentimos tão distantes da nossa realidade. Mas, essa é a “realidade” que queremos para nossas vidas.
Às vezes, tudo parece tão fácil, tão simples. Até pode ser. Porém, aquela ideia de ‘querer é poder’ parece nunca se encaixar em nossas vidas.
Não estou acometida pela pressa, a ansiedade já não é tanta. Na verdade, as Águas de março estão chegando tão rápido...
O pessimismo outrora é obra do destino. Mas, quem nunca pensou que algo não ia dar certo uma vez na vida, que atire a primeira pedra. Quem sabe a cruz que estamos carregando, não é aquela que podemos carregar. E como já diriam outros: Sem sofrimento, sem glória.
Agora tudo já parece mais transparente. É que, se vai junto, quem sabe vai bem, quem sabe não vai, que sabe se fica.
Esperamos por nossa imaginação fértil na calçada de casa, para nos trazer alguma alegria no final do dia. Esperamos aquele banho de horas, em que se precisaria de uma caderneta impermeável para registrar todos os pensamentos interessantes nesse momento. Esperamos por o momento de loucura, onde repensamos sobre tudo o que deveríamos ter feito e falado, existindo então, uma espécie de diálogo, onde interpretamos todas as personagens. Esperamos pelo travesseiro aconchegante. Esperamos pelo “Bom dia” de alguém querido. Esperamos pelo abraço da despedida. Esperamos que tudo isso aconteça de novo.
Aguardamos demais. A espera é inimiga do alcance. Só que certas horas, não se há o que fazer. Ou até se tenha. Mas o ter é difícil, falta ter coragem.

15 de fevereiro de 2013

Um toque

Por Arthur Castro. Focos Pro

Eu faço verso
Porque falar já não sei mais
Eu faço filme
Porque viver
Não me traz razões cruciais
E em ti penso
Com ânsias descomunais

Eu passo mal
Pois mal não consigo ser
A tristeza que me calha
É aquela
Que não consigo descrever
Maldito seja o poeta que disse
Que “não há você sem mim
E eu não existo sem você”

Eu faço cena
Pra ganhar um beijo teu
Até achava
Que eras o meu Romeu
E que te encontrei na porta
Do insano Ateneu

Eu sei amar
Como quem não ama nada
Eu sei chorar
Como quem chora por saudade
Eu sou criança
Com a inocência da verdade

Não me transmita
Sua descomunal paciência
De achar que sou passível
Nas minhas maiores confidências
Derramando sobre mim o teu fel
Com profunda transparência

Cansada de ti
Já estou
Cansada por inteiro
Eu sei que teus lábios beijo
Depois do tal cinzeiro
E Anjos me disseram
“Que em minha boca tu escarras”
Como quem é derradeiro

Bocas pobres, mal amadas
Que meus ouvidos atormentam
Logo eu, tão avisada
Não entendi um tal mexeriqueiro
Falando quem em minha boca tu escarras
Dito cujo, boateiro

O escarro é um veneno
Que se acomete a qualquer beijo
E que toma de conta
Do vosso corpo por inteiro
É o germe do coração
A doença do ano inteiro

Só que até o pôr-do-sol
Se encerra com um beijo.

13 de fevereiro de 2013

Dez mais seis


Dezesseis não é mais quinze. Também não é dezessete, nem muito menos dezoito. É um pouco depois do início. É como se fosse o meio do meio do caminho andado no tabuleiro.
Dezesseis não é doce nem amargo, não é duro nem mole, não é fácil nem difícil.
É onde a irresponsabilidade da afetuosa infância começa a desaparecer. É quando o mundo já não é visto com os mesmos olhos sutis.
Dezesseis é aquele momento em que você começa a perceber que o esforço para apagar as velas tem que ser maior.
Está ficando mais perto de ser adulto, e mais distante de ser criança, mesmo que teus pais ainda te chamem de meu bebê. É que a gente nunca cresce para os nossos pais.
É a fase da negociação de liberdade, dieta de inocência, gula de descobertas, sede de revolução, cárcere de responsabilidades.
“As tardes não são mais fagueiras e não há mais sombras de bananeiras ou laranjais”. Isso era quando eu tinha “Meus oito anos”. Agora tenho o dobro.
Porém, ainda morremos de rir. Rimos até da morte.
Vimos o despontar da catapulta. Resta saber o destino dos ventos.
E que ansiosos ventos! Chegamos a soprar junto a eles. São as tais andorinhas que nos deixam inquietos.
Vencemos pela impaciência. Entretanto, também somos arruinados por ela.
É mais um dia. Um dia que calculam dezesseis anos desde aquela data.

12 de fevereiro de 2013

Ímpar: sem par



Dois poços cristalinos? Duas esmeraldas? Um par de pedaços do céu? 
Ainda não sei ao certo. Apenas tenho a certeza de uma profunda segurança que me transmitem.
Não tenho cartas com letras de forma, nem tenho lembranças. Na verdade, também não tenho vacina. É que não sou vacinada contra esse encanto que sobre mim se reflete.
A felicidade me deixa levemente sóbria. Estou embriagada de solidão. Só quero uma dose de você. Dou-te um porre de mim.
Amanhã é quarta-feira de cinzas. Foi o que me disseram. Eu sei que é quarta-feira. Porém, acho que as cinzas me contêm. Meu mundo agora é preto e branco. Procuro sua presença.
Meu pulso ainda pulsa, entretanto, não mais como antes. Falta o vermelho nas minhas artérias. Falta o calor do teu sangue no meu.
De que serve um arco-íris inteiro, se não tem a cor dos teus olhos? Porque tenho a confiança de que ela é única.
Podem medicar minha amargura e me contestar por inteira, que de nada adiantará. Teus olhos são meu único remédio.
O desespero que me aperta, é saber que só em nascer, prontamente estamos a morrer. Não quero perder mais um minuto de suspiro sem ti.
Espero muito, vivo pouco, faço planos demais.
É impossível se adaptar ao ímpar. O dois sempre soa melhor.
Esses teus dois brotos são o espelho da minha alma. Talvez ai eu demonstre minha profunda agonia por saberes realmente quem sou. Essas fitadas fixas me causam calafrios. É como se minha mente bebesse cicuta. Tudo parece parar devagar. Padecendo lentamente.
A timidez que não me pertence, cai sobre mim. Minha nuca arrepia.
Por algum tempo, noto que o infinito está dentro desse teu olhar. É tudo que eu mais preciso.
Disseram-me que cada olho tem sua beleza, e cada beleza tem seus olhos. E não estavam errados. Não existe menos distância entre tu e tal premissa. São as minhas pérolas, que me acompanham por onde quer que eu vá.
Quiçá tudo isso também não passe do meu maior medo. Tenho medo do meu olhar nunca cruzar com o teu.

   

10 de fevereiro de 2013

Inspiração da semana

Por Filipe Azevêdo. Filipe Azevêdo & Desenhos
É importante saber que a arte de se descrever e perceber aquilo que realmente está dentro de nós, não se encontra somente nas palavras. Como já havia citado aqui, as artes visuais também são uma de minhas paixões. A página com os desenhos de Filipe Azevêdo (facebook) não é só uma expressão de tal caráter, mas uma forma de nos introduzir também em outras áreas, como na história. O detalhismo dos desenhos é impressionante, algo que não é passível de ser descrito, apenas sente-se. O desenho exibido é um dos meus preferidos, acredito que a visita vale a pena.

9 de fevereiro de 2013

III. Expectativas banais



Ele estava lá, sempre à espera. No banco da praça, na fila do mercado, na fila do cinema, na fila do banco, na fila da sopa, na fila de entrada, na fila de saída, na fila da sala de espera.
Até no terapeuta existe fila.  Mas ora essa, que contradição- só existe loucura, porque existe fila. Só existe fila, porque existe espera.
Esperamos a chegada hora. Como outros diriam, esperamos a “hora H”.
Esperamos ser felizes. E, enquanto este dia não chega, esperamos morrer.
Mas, eis uma coisa interessante. Vivemos em busca da felicidade, vivemos para sermos felizes. E o que é a felicidade se não for os inconstantes momentos? Como definiríamos a moça se não existisse a velha tristeza?
Imagem por Arthur Castro. FocosPro
Almejamos o dia em que vai existir o para sempre. E não sabemos que ele já existe, só que “o para sempre, sempre acaba”. Não preciso que não acabe, apenas quero que dure um pouco mais. É difícil encontrar sentido. Entretanto, o fato é que não sabemos dar nome aos sentimentos.
Só que agora consigo sentir a presença. Jogou-se tudo no vento de um tufão e um jovem mar apareceu, hoje de novo. Esse mar que se faz de vítima, mas que no fundo, ainda é o que atordoa. Uma verdadeira mistura de água, sons e céu.
Tive a terrível sensação de uma lua surgindo, ainda mesmo com as últimas flechas de sol, as quais já consigo abrir meus olhos e encará-las frente a frente.
No final de tudo, é a liberdade que nos acalanta. Aquela que de vez em quando, aparece por vós, submergindo a todos os nossos problemas.
Ela estava a sua espera. Não saía de lá, porque sabia que em algum momento chegaria. A espera vos desencontrou. Ele esperava e ela também.
A única coisa que vos ligava era a chuva que caía dos vos ligava eram as gotas de chuva que caíam dos olhos deles, e padeciam sobre vossos peitos.
Sempre obra da espera. Pois quem muito espera, nunca alcança.

8 de fevereiro de 2013

Quem? Eu?


Essa semana sou obrigada a sair um pouco do âmbito poético. Estamos vivendo verdadeiros dias de Macabéa. Se você é um daqueles que está super animado com o Carnaval, e está dizendo por ai que “nem um tsunami te derruba”, nem leia o resto do texto.
A hipocrisia já te consumiu por inteiro. Pois é, se até agora não temos previsão para nenhum tsunami do proveniente do Atlântico, esse porém, pode vir até do Pacífico. Se bem que um tsunami agora não seria nada mal. Acabaria com a sua hipocrisia e traria a vida de muitas pessoas. Olha só a posição estratégica da América do Sul!
Por Júlia Helena. Cativando-se.
Nós, privilegiados, temos 8.514.876 quilômetros de terra e  aproximadamente 193.946.886 de vácuos ambulantes.
O grito se propõe em um só.
Acorda Brasil. Acorda para ver que a da cigana já te engana. A corrupção te faz um pecador. Pois bem, sempre são as migalhas do pão que se espalham na maior parte da mesa.
Se o penhor dessa igualdade”? Com certeza tem alguma coisa errada por ai. É Brasil, Policarpo estava certo mesmo. Tuas fulguras estrelas na imensidão do céu azul, já não mostra mais uma pátria tão amada.
E o Seu Chico? Por que anda a matar tanta gente?  Homem de tanto caráter... Ah, bem lembrado. Tem uns homens de preto andando por ai. Até que são elegantes.
Brasil, por favor, não me engane. O Seu Chico disse que não gostava muito deles, porque vos acoberta?
Deve ser porque eles mandam mesmo em você. Mandam no seu vizinho. Mandam na educação dos seus filhos. Na sua saúde. No esgoto da sua rua. Na comida posta à mesa. Na água que você bebe. Na sua sobrevivência. E até na sua morte.
Só mais um aviso, meu caro: eles não irão parar de mandar enquanto nada for feito. Só tua boca e mãos nos salvam.