5 de julho de 2013

Insônia no sonho (pesadelo)

Creio que existam muitos segundos durante uma vida. Aí as pessoas se confiam nos segundos, e esquecem que os anos não são tantos assim. Só que ainda insistem no erro e dizem -“Ah, mais um ano tem muitos dias”- quanto demora o seu ano?
Sem querer ser pessimista, ou qualquer outro adjetivo ruim que você possa estar me xingando acolá, o meu tempo está correndo. Na verdade, eu diria que ele está num voo supersônico. “Você sente que o seu também?”- Ah, desculpa, eu não sabia.
É que eu nunca sei de nada mesmo. Só me dou ao prazer/ desprazer de me tocar. Me toquei naquele dia que disse pra minha mãe que a odiava. Me toquei também naquele dia que a vi cuidando de mim desesperadamente por conta de um simples resfriado. Me toquei que quando eu tinha uns sete anos de idade, gostava das mesmas músicas que a minha irmã mais nova gosta, e achava estranhas as músicas que meu pai escutava. E me toquei que hoje escuto as mesmas músicas do meu pai e critico o gosto “infantil” da minha irmã.
Me toquei que o “Ano novo” daquele dia, parece ser agora tão velho, mesmo parecendo também que tudo aconteceu ontem. Me toquei que parti com muita felicidade e vontade de descobrir o novo. Me toquei também quando senti saudade do velho. Me toquei naquele dia em que escutei “Olhos nos olhos” do Chico Buarque, e fiquei imaginando se alguém um dia poderia se arrepender por uma escolha mal feita. Me toquei naquela vez que fiz uma má escolha, e lembrei da música do Chico.
Me toquei naquele dia que ganhei um celular novo e achei que era feliz. Me toquei naquele dia em que vi um amigo morrer e me senti fútil. Me toquei naquele dia em que pensei que só poderia ser feliz se fosse perfeita. Me toquei também quando descobri que tinha gente que amava os meus defeitos. Eu me tocava o tempo todo. E acredite, continuo me tocando. É que, às vezes, a gente não se cansa de ser errante. Assim como também nunca cansamos de acertar.
Mas, eu descobri também, que me tocava com coisas muito estranhas. Certa vez, fiquei imaginando se as pessoas davam o significado certo para as palavras. Aí pensei, por exemplo, na palavra insônia, que significa em seu sentido original, a falta de sono. Não consegui relacionar, naquele momento, outro sentido para tal palavra tão óbvia.
Outro dia, cheguei à conclusão de que aquele velho ditado “Você só consegue entender realmente o sentido das coisas quando elas estão na sua pele” (na verdade, eu nem sei se isso é um ditado, a culpa é do vício que peguei com a minha avó, que fica formando frases e chamando de ditado) porque eu estava numa noite de insônia. Comecei então a pensar novamente sobre o significado da palavra, e me veio uma coisa à mente: sem sonhos. De fato, se você está acordado, você não pode estar sonhando, é claro, se você não tiver alma de poeta. Porém, o sentido de insônia me trazia algo a mais, um tanto nebuloso, que minha pobre mente não conseguia explicar naquele momento.
Timothy Archibald (Echolilia: Sometimes I Wonder)
E foi aí que veio o susto- eu acordei! Sim, eu me toquei que estava dormindo. Despertei no meio da noite, com um cansaço cruel. Decidi beber um pouco de água. Olhei para uma flecha de luz que passava na porta da cozinha com as luzes apagadas. Perdi o sono.

Não consegui entender como perdemos tanto tempo na vida dormindo. Entretanto, não conseguia achar uma solução “real” para viver sem dormir. Pois é, porque o que seria do embriagado sem a noite e sem a dor?

Júlia Helena

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