Gostaria
de ter melhores recordações. Mas, ao contrário do que dizem por aí, querer nem
sempre é poder. Falo diretamente do futuro sobre o passado, porque o presente
eu nunca ousei viver. Essas lembranças turvas em minha mente me causam arrepios
que minha pouca sanidade não conseguem definir se são de tristeza ou de alívio.
Poderia
continuar a falar do tempo e de minhas memórias, pois não consigo desviar esses
assuntos de minha mente. Só que como bem diz a frase idiota, que muitos definem
como clichê, a qual farei referência agora- “Se você não consegue superar o
problema, ao menos supere o vício de falar sobre ele”. Por esse motivo barato é
que tentarei fazer um esforço.
A
dramatização de minhas palavras daria uma bela peça de teatro- e quando falo em
drama, digo isso em todos os sentidos, desde a minha expressão neste momento ou
aqueles mentirosos que ganham dinheiro nos palcos. É certo que a lida diária
com gente de carne e osso é um tanto quanto complicada, por esse motivo, decidi
viver num mundo que não é tão real assim, mas que consegue suprir os meus
instintos de liberdade mais instantâneos.
Como
bem costumo dizer, sou uma atriz do teatro da vida. Não me entenda mal, meus
caros, e não achem que estou tentando sobressair minha altivez. Apenas acredito
na tese de que quando nos lançamos ao mar, provavelmente, os medrosos voltaram
na primeira grande onda. Já os virtuosos, de tanto nadar, nunca desistirão de
encontrar o horizonte.
Peço
desculpas ao finado (há alguns relevantes séculos) Immanuel Kant, que neste
exato momento deve está revirando-se na cova (isto é, se ele teve uma).
Entretanto, não quero fugir do foco desta prosa, que veemente não é falar sobre
a morte dos filósofos. Apenas queria dizer que discordo dessas teorias
formuladas para a felicidade.
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Não
acredito que com o cumprimento dos seus deveres e ações éticas se consiga
alcançar algo tão abstrato e sem definição propriamente dita, assim como também
não creio no fato de que a vida seja uma eterna busca pela Dona Felicidade,
como disse Aristóteles.
A
questão é tão complexa, que eu não acredito nessas teorias, entretanto não
consigo formular a minha. Na verdade, eu nem sei o sentido de estar falando
sobre isso agora. Talvez seja arte da efemeridade dos meus sentimentos e da
minha vida instável.
Dizem
que, de vez em quando, eu falo enquanto durmo. Outro dia, meu pai acordou-me
com um balde de água fria, e eu mal consegui entender o que havia acontecido.
Depois de secar-me e um resfriado se instalar em meu corpo, minha mãe decidiu
me explicar toda a situação: eles estavam na melhor parte do sono, quando
acordaram com um barulho estranho que vinha do meu quarto. Minha mãe assustada,
fez com que meu pai fosse lá conferir.
-Ele disse que você dormia e gritava feito uma
louca pelo nome do... do...
-É... eu acho que estava gritando pelo nome do
DiCaprio.
- Foiiii, foi isso mesmo! Aí, minha filha,
você sabe como é seu pai, não pensou duas vezes quando viu uma você com mais
uma dessas crises de sonambulismo, gritando pelo nome deste cabra.
Eu
estava anestesiada. Não sabia se continuava ali, parada tentando não sobrepor
meus olhos nos de minha mãe e desviando meu olhar para a parede (essa técnica
sempre funcionava) ou se soltava o meu riso frouxo e aguentava ser chamada de louca
pela segunda vez. A única coisa que me veio a cabeça foi -“De médico e louco,
todo mundo tem um pouco” – então decidi olhar para a parede numa tentativa de
achar respostas para o acontecido, enquanto minha mãe não conseguia fechar a
boca. De nada adiantava, o som das palavras estava cada vez mais distante da
minha audição.
Decidi,
por um momento, parar de assistir filmes de ficção antes de dormir. Porém, eu
não conseguiria, já que esse vício era mais forte do que eu. Desde a minha
infância, eu era fascinada pela habilidade das mãos-de-tesoura do Edward, o
mundo fantástico que a Alice havia encontrado dentro da toca de um coelho
branco que falava e tinha um relógio, e da esquisitice de um velho cientista
que conseguiu criar um boneco mais esquisito do que ele, e ainda por cima,
deu-lhe o nome de Frankstein.
Algumas
vezes, eu até me permitia usar as minhas trelas de criança e ficava espiando da
porta da sala os adultos assistindo “Titanic”. BINGO! Tudo veio à tona agora-
ontem, antes de dormir, eu tinha assistido “Titanic” e “Diamante de sangue”, ambos
os filmes em que Leonardo DiCaprio era o protagonista com personagens e
histórias totalmente diferentes.
Acho
que eu tenho que fazer uma consulta urgente com meu terapeuta. Meus hormônios
devem estar muito afetados.
Júlia Helena
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