Por
um momento, meu pensamento ficou tão vago quanto folhas de papel em branco. E
finalmente eu consegui adormecer. Naquele impasse de utilizar a televisão do
meu quarto com o volume baixinho, como se fosse uma espécie de música de fundo,
foi que meu sono embalou.
Por
um tempo eu pensei que tivesse sequestrado minha própria vida. Porém, já se
tornara até um pouco de comédia lembrar-se dos episódios passados desse drama periódico.
Parecia que o disco enganchava no meio do caminho e eu não sabia passar o
capítulo.
Outro
dia, titularam-me como “uma contradição ambulante”. Na hora, não tive muita
reação para responder ao chamado. Mas, como é de praxe, aquilo mexeu um pouco
comigo. Refleti um pouco, e a primeira coisa que me veio à cabeça foi Raul
Seixas e a sua “metamorfose ambulante”. Será que isso sempre foi o que eu
queria?
Toquei-me
que eu realmente estava num barco que remava contra a maré. De fato, toquei a
mim mesmo. As coisas que passavam pela minha cabeça naquela linha tênue entre
vida e sobrevida (mais conhecidas por mim como “estar acordada” e “estar
dormindo”) eram inefáveis. Hoje só consigo dizer que senti.
Senti
por todas aquelas pessoas que se encontravam dentro das suas montanhas de
concreto. Na minha janela, ainda havia uma estreita abertura para avistar o
mar, mesmo que os homens tentassem arranhar o céu. Um dia, eu sonhava em chegar
até o mar. É verdade que por outras pessoas, eu tinha apenas um pouco de
compaixão.
As
minhas teorias formadas e “frases de efeito” quase nunca fugiam a regra- Toda
felicidade é relativa e os verdadeiros amores são recíprocos. A veracidade do caso
é que muitas vezes me notava um tanto louca por tentar achar explicação para
situações que já estavam tão explícitas.
Essas
minhas palavras soltas fazem parte de um aprendizado interno. Prefiro falar ao
vento a sucumbir os verbos dentro da minha alma. Esse passado fazia parte do
tempo em que meu corpo era quente e minha alma era tão fria, quase ao ponto de
congelar. Hoje não escuto tanto os grilos da noite. Prefiro o piar dos
passarinhos anunciando mais um dia.
Entretanto,
não quero desviar-me do fio do meu novelo. Naquela noite, eu fechei os olhos e
consegui enxergar o mundo. Não aquele mundo psicodélico, esse não. Enxerguei o
mundo que já era meu e eu ao menos sabia que o tinha.
Júlia Helena
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