Um
dia, você começa a perceber a grande quantidade de oportunidades que se perde
ao longo da vida. E compreende também, o quanto é estranhamente curioso se
afetar com quaisquer forasteiros. Às vezes, alguns deles parecem fazer um maior
sentido em suas vidas do que muitos que você conhece desde a barriga da sua
mãe. Outras vezes, você parece os conhecer melhor do que toda essa multidão que
te cerca e nada te transmite.
O
fato é que nunca se sabe quem realmente se é. Da mesma forma que nunca se sabe
quem os outros são. Mas eu te pergunto agora, e o que é a vida? A não ser um
sentimento que brota do nada por um acaso que desconhecemos, que não
conseguimos explicar, apenas sabemos que sentimos e que somos, e isso é o que
importa para que a nossa cegueira esteja efetuada.
O
problema é quando a vida se apaixona pela liberdade. Como Auden já dizia, ser livre é ser, frequentemente, só.
Essa história de metade da melancia, da laranja, do limão, ou de qualquer outra
fruta simétrica, já não faz tanto sentido. Não queremos metade de nada, nós
sempre queremos tudo. Porém, nunca sabemos onde encontrar esse tudo, caso soubéssemos,
a existência não teria razão por nos fazer eternos nômades do mundo.
A
bifurcação de dois rios que desaguam no mar nos mostra que também fazemos parte
do infinito. Só que o nosso “infinito particular” só é realmente de nossa
propriedade se for estranho, uma vez que não conhecemos o limite. O vasto
universo que se encontra dentro de nós é tão desconhecido quanto pensamos. Universo
este que nem nós conseguimos desvendar.
Colocamos
protetor solar na alma e saímos à luta todos os dias. Desviamos a luz e
entramos nos túneis. Nossos corações de plástico ressecado faz com que as
redondezas não nos importem. Tão-somente que a qualquer momento, um raio de luz
pode quebrar esse plástico. Almejamos um estranho que nos faça feliz. Uma
estranheza que, por um sequer segundo, entre dentro de você.
Um
estranho, por mais que corrompido. Quero ter a estranheza de sentir-me feliz.
Talvez você também a queira. O enfado da tristeza já não tem tanta (des)graça.
Pode ser até que o meu nariz me engane. Não quero nem saber, sou intrigante
mesmo. E quero estar estranha em conjunto.
Júlia Helena
Agradecimento do material à Thiago Monteiro.