Hoje,
infelizmente, não venho aqui para postar algum poema ou uma prosa mansa. Venho
por um motivo que me assusta e que, de algum modo, corrompe os meus pensamentos
e ideais.
Há
algumas semanas atrás, iniciaram-se manifestações por todo o país, que eu não
precisarei explorar mais detalhes, pois todos nós estamos sendo bombardeados de
informações pela mídia, que de certa forma, não tenta nos persuadir com a
transmissão da informação, e sim, condensar nossas mentes a acreditar no que é
exposto por essas caixinhas de surpresas.
Nos
primeiros dias, me sentia extasiada e com um sentimento de liberdade de expressão
mais efervescente no meu sangue do que nunca. Senti-me brasileira de verdade, e
conhecia o orgulho de gritar isso junto a todas as outras vozes, que formavam
um coral de libertação pelas ruas do Brasil.
Cheguei
a entrar em desacordo com meus pais por não permitirem ir às ruas protestar por
um “não sei o que lá”, como todos faziam. Pois é, como previsto, a mídia também
ocultou a minha argumentação diante deles. Mesmo assim, não redimi minha força
de combate, e propaguei como pude essa nova forma de ser patriota. É claro que
fiz isso da mesma forma como tudo começou- pelas redes sociais.
![]() |
Cartum alemão que diz no balão "Não funciona mais" |
No
dia 20 de junho, a cidade de Recife acordou com outros olhos. Era o dia em que
foi marcada oficialmente a manifestação no centro da cidade. Não estive
presente, mas, contei com a presença de muitos amigos, que puderam testemunhar
o acontecimento e me afirmar que, de fato, o protesto foi pacífico. Porém,
protesto pacífico não dá audiência, não é mesmo?
Agora
faço um apelo a esses meus amigos que estão indo as ruas. E faço uma denúncia
(que já é de se imaginar) sobre o despreparo da rota policial que acompanha
esses protestos. Nesses últimos dias, aconteceram outras “manifestações
relâmpago”, em que vários de meus amigos e alguns conhecidos foram atingidos
por balas de borracha e spray de pimenta, quando só exerciam seus direitos de
liberdade de expressão enquanto cidadãos.
Peço
que não me julguem mal, este pedido não é para que, vocês, jovens, deixem de ir
às ruas. Pelo contrário, já conseguimos algumas migalhas que nos foram tiradas,
precisamos continuar a luta, pois, muito do que se perdeu ainda há de ser
reconquistado. Só gostaria de deixar um aviso para as nossas autoridades que
pensam que podem nos conter com a sua força física e artefatos de “efeito moral”-
enquanto existir cabeças pensantes e voz, nós não vamos parar- essa é a nossa
verdadeira arma, e é com ela que venceremos todas as batalhas, dia após dia.
Para
aqueles que também não estão autorizados a ir para as ruas, peço que não
hesitem sobre o poder de seus pais. O excesso de zelo na maioria das vezes é
uma demonstração de amor a um bem tão importante que é uma vida.
Espero
que não somente aqueles que conheço, mas todos que sofreram algum tipo de
violência física não desistam do combate
a nossa insatisfação, pois é necessário, primeiramente, um desequilíbrio do
sistema para que possamos reorganizar e por a casa em ordem.
Júlia Helena
Nenhum comentário:
Postar um comentário