Fotografia por Arthur Castro. FocosPro |
Acabo por
findar meu dia
Com o
sentimento de chão não ter
Tempo bom
era na calada da noite
Em que tempo
não parecia haver
Para ser
turista de minha fantasia
O dever nem
sempre equivale a minha obrigação
Às vezes,
penso que devo
Outros
momentos finjo que não
Sou obrigada
a ser quem sou
Mesmo que o
meu eu
Transborde de
mim
O tempo me
diz
Que os
ponteiros ainda demoram a se encontrar
A hora da
partida
Sempre requer
a passagem por um piscar
A chegada
sempre ecoa como o canto dos deuses
Mas quem
dirá o que é o tempo?
Essa estranha
forma de medir o rumo e o tamanho das sensações
Esse retrato
em preto e branco das recordações
Esse destino
que se afasta do princípio
E que mata
cada minuto, lentamente
Penso nas
palavras mal-ditas
Nos beijos
não-roubados
Nos abraços
repugnados
Nas lembranças
esquecidas
Na matéria
da vida
Que vida não
há de ser
Sinto que
sou única e imperfeita
Escultura sem
acabamento
Mão de obra
cara
E trabalho
mal feito
O que restou
de mim foi esta pobre alma
Que o tempo
não conseguiu apagar
E que clama incessante
Por ter
momentos mais sutis
Das alegrias
mais diversas
Simplicidade
é amar
Mesmo antes
de descobrir toda a verdade
Do karma que
te traz aqui:
E que forma
de amor é essa
Em que se oferece
o que não se recebe
E se recebe
o que não se quer ter?
Antes
mal-amado do que amando mal
É triste não
ter abrigo para meus olhos
É estranho
ser um objeto banal
Dos olhos
que não estão em mim
Jamais “discutirei
Caetano”
Ou pularei
da janela do “Oitavo andar”
Viverei na
paz de mim
Morrerei no
percurso de cada dia
Serei fiel
as minhas últimas regalias
De pronunciar
o que quiser
Escrevo porque
falar já não sei mais
Uma parte de
mim se trancou no escuro
O outro lado
ainda procura a luz
Que a
humanidade me perdoe
Mas ninguém
sabe desse trauma
de viver com
a pele
tão a flor assim.
Júlia Helena
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