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Kyoko Hamada (I used to be you) |
É
difícil fazer com que me entendas, meu caro assimilador de palavras. Sou o
silêncio que a escuridão não vê e a luz que os olhos não escutam. Maior parte
de mim é confusão, na verdade, acho que o que sobra também é. Mas, não me sinto
reprimida por inteiro, o sentimento é o meu ganha pão. Afinal de contas, é
necessário que alguém traduza as dores do mundo, mesmo que, às vezes, em
guardanapos de restaurantes. Entretanto, nessas meras palavras tortas, nota-se
que já não se fazem mais seres humanos como antes- de carne, ossos e coração.
Ando por aí tentando sequestrar a
poesia de alguns olhares vagos e densos, os quais só me transmitem o cansaço do
cotidiano circular e a constante luta por um melhor que nunca chega. As grandes
palavras nos outdoors das ruas me tornam um analfabeto da vida. Quem dera os
homens de bem pudessem compartilhar de tal sensação comigo, entenderiam por um
milésimo de momento, o sentimento de toda uma vida, quer dizer, de todas outras
várias vidas.
Essas minhas manias tolas de tentar
sentir a brisa do vento no rosto ou o prazer no simples ato de escovar os
dentes, já não servem pra esse mundo. Segundos não mais existem, o tempo só se
conta em horas, que passam sem que eu perceba a chegada dos meus cabelos
brancos e as marcas da vida sobre mim. Esse querer bem sem saber o porquê, só
me diz que não sou daqui, eu não pertenço a este lugar.
Apenas sei que as pessoas daqui também
nascem e morrem. Assim como no nascimento, a morte aborda a passagem do
inexplicável para o desconhecido, fato que traz um medo remoto e um calafrio
que sai dos pés a cabeça só de pensar no assunto. Há quem não goste de falar de
morte, porém, faço-lhe a mesma pergunta truã e clichê que todos sempre fazem-
Qual a única certeza do futuro?
Pensando bem, se pararmos para
analisar, o futuro nem existe. Trata-se apenas da nossa ansiedade fiel de
querer dominar o tempo, e assim, dividimos em nossa cabeça por passado,
presente e futuro. O passado são as lembranças que restaram e que por algum
motivo, se impregnaram em nossa mente, de forma a servir de exemplo para os
planos póstumos. O futuro não passa das meras aspirações e fracassos que devem
ou não ser cometidos outra vez com base no que já passou.
O presente? O presente é o tempo que
estamos perdendo a vida enquanto pensamos o que faremos no futuro e analisamos
o passado. O presente é essa agonia devota e eterna de querer um “não sei o
que” e “não sei aonde” que nos deixa pensativos, dispersos, longínquos...
Não quero limitar-me apenas do
passível de acontecer. O tecnicamente “impossível” é que faz com que eu coloque
a cabeça todos os dias no travesseiro e pense em acordar. No mais, me contentaria
com essa nova vida de robô: planejado e programado para o mundo.
Peço
singelas desculpas a “geração Coca-cola”. Eu não sou assim, aqui não é o meu
lugar.