E
quem disse que sou atemporal? Meu tempo é tão presumido quanto as fúnebres
marcas dos meus olhos de ressaca. Eis outra verdade sobre a minha face.
Se
estes olhos realmente são de ressaca, na verdade, não tenho certeza. Falaram-me
isso outro dia. O fato é que me sinto tão sóbria como não acontecia há muito
tempo. Porém, esta sobriedade só toma conta do meu interior, o que não faz com
que eu enxergue o mundo com a visão de um antigo grego.
Ainda
não consegui decifrar a psiquet do
meu tempo. Se alguns afirmam que a cronologia não falha, até posso aceitar.
Entretanto, minha cabeça não tem relógio certo. Sempre se atrasa na hora
errada. Sempre se adianta nos segundos mais inapropriados. Esses ponteirinhos
realmente são muito decisivos em nossos pedaços de existência.
Aquela
história de que a partir do momento em que nascemos já estamos a falecer não
vem de outro lugar. O tempo às vezes se parece um pouco com aquela tia chata, o
cunhado mal-educado ou a sogra metida.
Contudo,
fazendo uma ligeira analogia a uma situação de enfermidade, onde muito se passa
pela cabeça das pessoas “Aproveite seus últimos dias de vida”, entramos numa séria
contradição em que muito não se pensa.
Se
a partir do momento em que nascemos, imediatamente já estamos a morrer, a vida
em si já se trata dos seus últimos dias. Quando o caro Russo dizia que “É
preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra
pensar, na verdade não há” não se tratava apenas de mais algumas palavras de
cunho sentimental e melódico. A coisa é mais lógica do que poderíamos imaginar.
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A
infância muitas vezes também se eterniza em nossas mentes. A inocência talvez
traga consigo todas essas boas sensações juntas em um só tempo, de uma só vez. É
uma pena que ainda não fossemos dotados da sabedoria para entender que tudo
isso acaba rapidamente. Talvez depois disso, o amor e suas peripécias venham
como forma de aniquilar a falta que a doçura da infância nos faz. Quem sabe
nossa alma ainda seja de uma eterna criança, mas nossa cabeça nos torna “gente
grande” e acaba por nos trazer para a realidade.
O
real às vezes é feio. Quem me dera pudesse acreditar para sempre nas princesas
encantadas ou nos super-herois de histórias em quadrinhos. Todavia, isso tudo é
muita teoria barata. Sempre gostei mais do Flicts e dos anti-herois.
Apenas
uma coisa é certa- somos escravos da nossa própria consciência. E apenas quem
está com a mente aberta para viver cada dia de forma única é que será capaz de
tal proeza. Há muitas coisas na linha tênue do infinito para serem desvendadas.
Há muitos heróis de carne e osso para serem descobertos.
Paralisar
não é a solução. Enquanto existir um coração que bate e uma mente que pensa,
estaremos no eterno movimento do navio- agoniante e com uma maravilhosa vista
para o que não há explicação.